escrita
“… a escrita é isso… não há compulsão nem inspiração que valha: há ofício e método. E nem sequer é romântico: são os braços sujos até ao cotovelo.”
in Terceiro Livro de Crónicas
António Lobo Antunes
arquitectura??!!...
dia de análises...
sei que foi e não é definido, mas sem esperar tudo aparece num olhar inocente na espera do chamamento… vazia encostada ao canto, limpa e lisa, arrumada e pronta para outro corpo adormecido, que se reencontre e remexa nos lençóis grossos … foi assim no piso de cima onde as noites eram compridas e vazias de dor, que depois de barriga cheia visitavam-me e traziam ar novo
(podia ter sido pior)
junto da tv, o ar limpo e higiénico da quarto trazia o pensamento pesado do tempo que passa e não corre, e o outro que tossia sem eu saber porque, não queria apresentações, não queria recordações… mas tem de ser, mais cedo que a tosse… tinha de haver razão para esse surto… havia sido uma hérnia, duas hérnias e só mais um dia… e eu ainda mais tinha
(quanto foi mesmo… três dias… eternidade)
o corredor servia de pista, de distracção, de reflexão, de passagem, de relações, de ver a rua, de ver o mundo… as pessoas que passavam e que de repente tornaram-se centro do meu dia, a maneira como se movem, como se vestem, como reagem… aquele senhor que secretamente guardou a sua nota de cinquenta no fundo da carteira… e cá de cima tudo se via…
eterno
… é das melhores sensações! Como o por ou o nascer do sol, o crepúsculo… momento infinito de acordar, onde o tempo não existe, as dimensões não são reais e o corpo não pesa
( antes do exacto momento que acordamos)
não é o acordar, nem o dormir… é algo intermédio, tenebroso, ambíguo…. sublime! A própria consciência do momento, torna-o passado… a inconsciência deste segundo infinito torna-o eterno. Mas como posso eu estar aqui a pensar nele, se ele não existe na minha razão do pensamento?… mas posso adivinhar sobre ele e torna-lo naquilo que a minha vontade o deseja…
(é a inconsciência que está atrás da consciência de acordarmos)