sar@ifo.net
para amigas, namoradas, mães ... objectos de design português, feitos em feltro com alfinetes para serem colocados nas zonas onde mais se gosta.
vende-se e aceitam-se encomendas, com outros desenhos originais ....
e-mail: saraifoliveira_@hotmail.com
habitar ... 2
o mesmo corredor, a mesma história .... só passou mais tempo ao "lume" .
(clicar para aumentar as imagens)
O espaço de percurso entre duas zonas de uma habitação, pode intensificar as acções quotidianas e criar interstícios espaciais inesperados. A ideia de uma casa toda fechada para um pátio e um corredor que é mais que uma mera circulação, traz não só a privacidade necessária ao seu interior, como a relação directa e expectante com o espaço reurbano do plano da cidade dual.
O corredor torna-se de passagem obrigatória como ligação de todos os espaços integrantes da casa, constituindo-se um espaço teatral entre dois momentos diferentes. A possibilidade de achar, neste mesmo corredor, o livro perdido de dois dias anteriores, e subitamente sentar e ler, traz á memória um quotidiano livre e com tempo, onde as acções não são agendadas e forçadas.
A dispersão de vários momentos quotidianos por toda a habitação, torna cada um deles momentos autónomos e de muita maior força, enquanto momento que de torna eterno.
A possibilidade de acordar com a sobra da arvore a andar sobre o nosso corpo, as cores das flores do pátio entram pelo espaço da zona de refeições, a chuva que cai sobre as escadas enquanto trabalhamos sobre o computador ou falamos com o cliente...
escrita
“… a escrita é isso… não há compulsão nem inspiração que valha: há ofício e método. E nem sequer é romântico: são os braços sujos até ao cotovelo.”
in Terceiro Livro de Crónicas
António Lobo Antunes
arquitectura??!!...
dia de análises...
sei que foi e não é definido, mas sem esperar tudo aparece num olhar inocente na espera do chamamento… vazia encostada ao canto, limpa e lisa, arrumada e pronta para outro corpo adormecido, que se reencontre e remexa nos lençóis grossos … foi assim no piso de cima onde as noites eram compridas e vazias de dor, que depois de barriga cheia visitavam-me e traziam ar novo
(podia ter sido pior)
junto da tv, o ar limpo e higiénico da quarto trazia o pensamento pesado do tempo que passa e não corre, e o outro que tossia sem eu saber porque, não queria apresentações, não queria recordações… mas tem de ser, mais cedo que a tosse… tinha de haver razão para esse surto… havia sido uma hérnia, duas hérnias e só mais um dia… e eu ainda mais tinha
(quanto foi mesmo… três dias… eternidade)
o corredor servia de pista, de distracção, de reflexão, de passagem, de relações, de ver a rua, de ver o mundo… as pessoas que passavam e que de repente tornaram-se centro do meu dia, a maneira como se movem, como se vestem, como reagem… aquele senhor que secretamente guardou a sua nota de cinquenta no fundo da carteira… e cá de cima tudo se via…
eterno
… é das melhores sensações! Como o por ou o nascer do sol, o crepúsculo… momento infinito de acordar, onde o tempo não existe, as dimensões não são reais e o corpo não pesa
( antes do exacto momento que acordamos)
não é o acordar, nem o dormir… é algo intermédio, tenebroso, ambíguo…. sublime! A própria consciência do momento, torna-o passado… a inconsciência deste segundo infinito torna-o eterno. Mas como posso eu estar aqui a pensar nele, se ele não existe na minha razão do pensamento?… mas posso adivinhar sobre ele e torna-lo naquilo que a minha vontade o deseja…
(é a inconsciência que está atrás da consciência de acordarmos)
E quando chove ….
A questão muito em voga, pelas conferências, livros e textos de todo o mundo arquitectónico do espaço público, remonta a meu ver, para um ideal imaginário de nuvens azuis e luz radiante constante. Partindo do principio, que já chove em Agosto a importância de um quotidiano em dias de chuva é essencial e necessário.
O desenvolvimento de um exercício onde o espaço publico vazio com o mínimo de construção, são pontos-chave, não é compatível com a possibilidade de observação de um espaço público a chuva. Uma estrutura que me albergasse da chuva, capaz de conter sociabilidade no seu interior e permitisse a observação do vazio exterior, promove uma vivência anual a esse espaço e recria o imaginário humano, adicionando a este uma paisagem “molhada” …